segunda-feira, 27 de abril de 2009
RH.COM.BR
Demissão se faz com responsabilidade e planejamento
Quando um profissional é contratado, a organização espera que ele dê o máximo de si e para isso, muitas vezes, investe em treinamentos para capacitá-lo ainda mais para atender suas expectativas e supri as necessidades do negócio. No início, pode-se até se afirmar que é formada uma relação de conquista entre as duas partes. Contudo, essa realidade pode mudar com o tempo e de um momento para o outro, o profissional pode ser desligado da organização seja por vontade própria, justa causa ou ações estratégicas. Por uma razão ou outra, a demissão nunca é algo agradável tanto para quem vai como para quem fica. Sem deixar de mencionar, é claro, que quando um colaborador deixa uma organização ele leva consigo o conhecimento adquirido.
Dentro desse contexto, muitos fazem a mesma pergunta: é possível tornar a demissão em um processo impactante? A princípio, a resposta que pode ser dada a esse questionamento é que existem ações que a empresa pode adotar para minimizar o desligamento individual ou de um número expressivo de funcionários. Essa é a chamada "Demissão Responsável", onde as empresa planejam o afastamento do profissional sem, contudo, deixá-lo "a ver navios" em um mercado altamente competitivo.
Para falar sobre o assunto, o RH.com.br entrevistou o consultor Gutemberg B. de Macedo, autor de livros como, por exemplo: "Fui demitido. E agora? A demissão não é o fim"; "Outplacement - A arte e a ciência da recolocação"; "Empregue seu talento - Carreira solo: a nova opção para o fim do emprego"; e "Carreira: que rumo seguir?". Inclusive, em 1993, o título "Fui demitido. E agora? A demissão não é o fim" foi contemplado com o Prêmio Jabuti de Cultura como melhor livro na categoria "Economia, Administração, Negócios e Direito".
"Muitas empresas levam até dois anos para seduzir, conquistar o profissional. No entanto, para demitir não levam mais do que cinco minutos", afirma Gutemberg B. de Macedo, ao ser questionado se as organizações estão realizando os processos de desligamento de forma responsável. A entrevista é uma oportunidade para você avaliar as consequências que o desligamento pode gerar à organização, aos funcionários e até mesmo à área de Recursos Humanos. Boa leitura!
RH.COM.BR - O processo de desligamento de um profissional nunca é fácil, seja para quem sai ou fica. As empresas estão conduzindo o processo de desligamento com responsabilidade?
Gutemberg B. de Macedo - Eu diria que as organizações estão a anos luz de conduzirem os processos de desligamento com responsabilidade. Digo com toda a certeza de que são poucas as empresas que tratam o colaborador com respeito. O que quero dizer com isso? Significa que poucas são as organizações que ao demitirem as pessoas dizem a verdadeira causa do desligamento e o que poderia ter sido feito, para que aquele fato não ocorresse. Pergunto: como um indivíduo pode ser avaliado positivamente no mês de janeiro, por exemplo, e pouco tempo depois, em março recebe a notícia de que já não mais atende às expectativas da empresa? Estou cansado de ver casos, onde as pessoas entram em período de férias e o superior já sabe que na volta aquele profissional será demitido. Nesse período em que o funcionário esteve de férias, ao invés de fazer gastos, bem que poderia ter feito economias para aliviar o peso da demissão, ou então, realizado algum curso de capacitação para melhorar as chances de empregabilidade. Infelizmente, o que constato hoje é que várias barbaridades são cometidas contra o trabalhador e isso ocorre porque existe um despreparo de muitos executivos que não estão aptos para conduzir um processo de demissão.
RH - Quais os principais cuidados que a empresa deve adotar, no momento de demitir um colaborador?
Gutemberg B. de Macedo - Temos que considerar dois momentos em que pode ocorrer o processo de demissão. O primeiro ocorre quando o desligamento é individual. Nesse caso, o gestor que irá realizar a demissão deverá, no mínimo, ter documentado em suas mãos todas as avaliações do funcionário ou, pelo menos, as mais recentes. Nunca se deve cometer o erro de demitir alguém no dia em que a pessoa está voltando das férias ou em datas marcantes como aniversário, Natal, enfim, algo que o profissional lembrará todos os anos. Além disso, para se demitir com responsabilidade é indispensável que a empresa apresente o plano de todos os benefícios de que o funcionário irá receber, para que ele possa se estruturar a partir daquele momento. Um acompanhamento de outplacement sempre será válido, pois certamente aumentará as chances do profissional encontrar uma outra colocação no mercado de trabalho. A razão do desligamento também deve ficar clara para quem é demitido. O que observo são gestores que comunicam a demissão e em cinco minutos batem em "retirada", deixando o profissional completamente desorientado.
RH - Esses cuidados que o Sr. citou são para demissões individuais. E os desligamentos que são realizados em número significativo?
Gutemberg B. de Macedo - No caso de uma demissão em massa, que atinja um número expressivo de profissionais de chão de fábrica, por exemplo, além de conduzir o processo com clareza através dos canais de comunicação é necessário dar um respaldo a esses profissionais. Como em qualquer outro processo, os funcionários deverão saber quais os seus direitos, se terão direito ou não a um pacote de remuneração temporário, bem como se a companhia realizou uma parceria com uma empresa de recolocação para que essas pessoas não fiquem desorientadas, sem rumo em um mercado tão competitivo. É preciso que os gestores desses profissionais sejam preparados para darem referências dos seus liderados e até mesmo terem disponibilidade para tirar dúvidas sobre o que levou a organização a tomar a decisão de demitir em massa.
RH - Quais os impactos que o processo de demissão mal conduzido gera?
Gutemberg B. de Macedo - Os impactos são inúmeros e certamente o clima organizacional é um dos mais atingidos. Podem ocorrer boicotes internos, agitações sindicais que atingirão direta ou indiretamente os funcionários, sonegação de informações entre departamentos, operação tartaruga "disfarçada" que acaba por comprometer seriamente a produtividade, aumento significativo do turnover, entre outros tantos.
RH - Em sua experiência como consultor, quais os erros mais comuns que as organizações cometem nos processos de desligamento?
Gutemberg B. de Macedo - São tantos. No entanto, posso destacar a falta de precaução e quando isso ocorre, a situação geralmente é desastrosa. É indispensável que exista um planejamento, pois não existe outra alternativa. Muitas empresas ainda acreditam que a demissão é apenas um problema funcionário e aí está um grande e sério erro. Também não podemos esquecer que quando uma empresa realiza demissões sem responsabilidade, está comprometo sua própria imagem não somente do demitido, mas também frente à sociedade.
RH - Na sua opinião, por quem o processo de desligamento deve ser conduzido?
Gutemberg B. de Macedo - Para mim, sem dúvida alguma o processo está nas mãos do gestor. O profissional de Recursos Humanos não precisa obrigatoriamente estar presente ao desligamento, mas caberá a ele a responsabilidade de dar respaldo ao gestor, de prepará-lo para aquele momento. Infelizmente, hoje vejo poucos profissionais de RH realmente considerados estratégicos, que foram preparados para isso. O estratégico participa das decisões que farão o futuro da organização. O RH deve entender em que mercado sua organização está inserida, que profissional o negócio precisará. A visão que tenho hoje é a de que a área de RH precisa melhorar em no que se refere ao entendimento do negócio, ao global, ao humanístico. Sinto que muitos profissionais da área não estão preparados para esse novo momento que vivemos.
RH - O momento da demissão pode ser considerado uma oportunidade de aprendizado?
Gutemberg B. de Macedo - Muitos profissionais bem-sucedidos foram um dia demitidos, repensaram a vida e traçaram uma "via expressa" de como chegar "lá", atingirem seus objetivos. Esses mesmos profissionais foram em busca do desenvolvimento de novas competências. Geralmente, nos deparamos com pessoas que são demitidas e só querem encontrar um novo emprego. Poucos são os profissionais que realmente mudam e mudam para melhor. Muitas vezes, a falta de comprometimento do funcionário está diretamente relacionada às raízes do profissional, ou seja, do que ele faz por si próprio.
RH - Que recado o Sr. deixaria para quem conduz um processo de desligamento?
Gutemberg B. de Macedo - Prefiro deixa dois recados. O primeiro para quem é demitido - faça da sua demissão o melhor aprendizado para sua vida, gerencie seu futuro e sua carreira mesmo que não exista um reconhecimento imediato. Coloque seus sonhos para fora e seja o diferencial em relação aos demais profissionais. Lembre-se de que você quem faz a carreira e é preciso identificarmos os nossos pontos vulneráveis. O conhecimento renova-se em uma velocidade cada vez mais rápida e é preciso acompanhar as inovações. O outro recado seria para quem realiza o processo de demissão. Não faça ao outro aquilo que você não gostaria que fizessem com você. Trate o demitido com respeito e dignidade e competência.
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